24 julho 2006

Lições de vida

" Alguns não entendiam as suas palavras,mas ainda assim ele não deixava de as dizer.
De repente, apareceu um mendigo a pedir comida a Falcão. Ele só tinha alguns trocados, mas deu-lhos. Despediu-se dele desejando que caminhasse em Paz.
- Você deu todo o dinheiro que possuía. Não vai passar fome á noite?
- Pode ser. Mas há uma fome que saciei agora. A fome de aliviar a dor de alguém.
Marco Polo emudeceu. Após um momento de silêncio, Falcão olhou novamente para a sua plateia invisível e perguntou:
- Você passa pelos vales da dor?
Marco Polo reflectiu e considerou:
- Algumas vezes, sim.
- Não se intimide. Eu e o Poeta comentávamos que não há pessoas isentas de sofrimento , nem do meu nem do seu mundo. O que há são pessoas menos encarceradas que outras. Todos somos reféns de algum período do passado.

Falcão não fez comentários sobre as algemas do seu passado nem Marco Polo se atreveu a questioná-lo. Continuou a descrever o Poeta. Disse que, quando a fome apertava, ele não pedia dinheiro, fazia os homens viajarem.
- Viajarem?
- Sim. Viajarem para dentro de si mesmos.
- Como?
Falcão subiu para um banco da praça e repetiu a cena que o seu amigo fazia e que ele aprendera a fazer. Convidou a multidão a aproximar-se. Começou a declarar alto e vom som uma poesia à Natureza. Os transeuntes, admirados fizeram um semicírculo à sua volta. Apontou para um belo pássaro e levou a multidão a viajar nas suas asas.
- Mais sábios que os homens são os pássaros. Enfrentam as tempestades nocturnas, tombam dos seus ninhos, sofrem perdas, dilaceram as suas histórias. Pela manhã, têm todos os motivos para se entristecerem e reclamarem, mas cantam agadecendo a Deus por mais um dia. E vocês, portadores de nobres inteligências, que fazem com as vossas perdas?
Em seguida, colocou o esgaçado chapéu à sua frente. Calou-se e sentou-se ao lado do deslumbrado Marco Polo. Os ouvintes, extasiados aplaudiram-no e deram-lhe dinheiro. Marco Polo indagou:
- Você recebeu muitas esmolas?
- Não recebi esmolas. As pessoas pagaram-me pela viagem que lhes proporcionei. Saiu-lhes barato.
Aquilo era de mais para a mente de Marco Polo. Ele ficava atónito a cada frase de Falcão. Após a dispersão da multidão vários mendigos famintos aproximaram-se. Falcão distribuiu o dinheiro entre les. Este ritual era comum.
- Você deu-lhes todo o dinheiro!?
- No meu mundo, os mais fortes servem os mais fracos. No seu, os mais fracos sevem os mais fortes. Qual é o mais justo?"

A saga de um pensador - A paixão pela vida
Augusto Cury

[Curioso...não?]

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